segunda-feira, 23 de julho de 2018

TOEFL iBT - Uma Abordagem Sincera

Pequena introdução

Desde o começo de 2017, faço parte do grupo enorme de pessoas que encaram a emigração como plano de vida. Como todos os outros, faço parte de fóruns, leio blogs, vejos os trocentos canais de YouTube que existem sobre o tema Canadá.

Estou ciente de que uma das partes mais complicadas e mais frustrantes de todo tipo de processo é justamente o teste de proficiência do idioma. Muitos precisam para o Express Entry; outros precisam para o College, para o trabalho, e por aí vai.

Muitos e muitos posts são de pessoas que querem saber como podem aprimorar o idioma. Em diversos outros, nos deparamos com futuros emigrantes relatando situações onde fracassaram na prova, pedindo ajuda aos demais para que consigam, finalmente, ultrapassar a fase da proficiência do inglês. Por essas e outras, inicio o post de hoje falando sobre ciência de privilégios.

Como mencionei no post que escrevi sobre o IELTS, eu comecei a estudar inglês aos 11 anos de idade. Desde cedo, acabei criando o hábito de ler em inglês o tempo todo, e tive a "sorte" de crescer com um gosto musical que me propiciou ouvir mais músicas em inglês. Por coincidência, a vida se desdobrou de tal forma que eu acabei tendo uma vivência muito intensa com o idioma desde cedo, e atribuo a isso a nota razoável que eu consegui tanto no TOEFL quanto no IELTS.


Meu inglês está a 900 mil quilômetros de ser considerado excelente, mas para os fins da imigração e da obtenção da nota mínima para as faculdades, consegui alcançar o objetivo. Todos os meus comentários reclamando da prova partem de duas premissas: 1) A vida foi muito boa comigo para que eu conseguisse atingir as notas mínimas necessárias sem passar por tanto perrengue; 2) Apesar da premissa 1, tenho total ciência de como essas provas são enlouquecedoras.

Partindo desses pequenos esclarecimentos, sigamos!



O que é o TOEFL iBT? Para que serve? Do que se alimenta?

Uma vez ultrapassado o longo caminho para obtenção da residência permanente, chegou a hora de pesquisar quais seriam as minhas opções de estudo no Canadá. Muitos amigos me perguntaram o porquê de eu ter feito "outra prova de inglês", fazendo referência ao IELTS General Training. A verdade é que essa prova do IELTS não serve para muita coisa (que eu saiba), a não ser cumprir o requisito do Express Entry.

Pois bem. Após fazer um levantamento dos requisitos mínimos de todas as faculdades que despertaram o meu interesse, tive que inicialmente optar entre dois tipos de prova que eram aplicadas no Brasil: o IELTS Academic ou o TOEFL iBT. Como eu já havia tido uma experiência com o formato de IELTS, decidi arriscar o TOEFL.

A prova do TOEFL é feita para analisar o seu nível de inglês num ambiente universitário, voltado especificamente para a vida acadêmica. Tudo que envolve a prova do TOEFL simula o que você passaria numa universidade: muitos dos áudios são aulas ou diálogos entre alunos e/ou professores, os textos são mais robustos, as tarefas do Writing são mais perspicazes. O exame é dividido em quatro seções: Reading, Listening, Speaking e Writing, com pontuação máxima de 30 pontos para cada uma delas (120 pontos, no máximo).

As pontuações são calculadas de uma forma um tanto quanto peculiar, se assim posso dizer. A parte do Reading, por exemplo, possui 45 questões, as quais variam de "peso" na hora de chegar ao valor máximo de 30 pontos. O Listening tem 34 questões, que também seguem a mesma linha de raciocínio de pontuação para mais ou para menos a depender da pergunta. Nas minhas pesquisas, achei esse tipo de site, o qual explica como você pode estimar e entender um pouco mais a sua nota na prova.



Como foi a minha experiência com o TOEFL iBT?

Depois de observar as notas mínimas requeridas pelas universidades, cheguei à conclusão de que precisaria obter a nota mínima de 100 pontos dos 120, sendo que pelo menos 75 pontos deveriam vir da somatória do Reading, Listening e Writing.

É muito curioso escrever sobre a minha experiência do TOEFL iBT. Diferentemente da minha vivência com a prova do IELTS General Training, eu não tive a oportunidade de me preparar como gostaria para a prova, a tal ponto que preciso olhar a sua estrutura na internet para poder desenvolver melhor o texto.

Inicio dizendo que inicialmente agendei a minha prova para o dia 06 de Abril de 2018 em São Paulo, poucos dias antes de fazer o landing no Canadá. Pensei que seria uma ótima ideia aproveitar que eu já estaria em São Paulo para tirar essa prova da minha cabeça. No entanto, eu não levei em consideração que eu estaria absolutamente eufórica com a perspectiva de chegar no Canadá, então minha concentração estava em torno de -290. Além disso, passei as semanas anteriores ao landing com uma série de coisas para resolver, e me senti mais segura pagando a taxa de reagendamento (60 dólares americanos) para fazer a prova no dia 07 de Julho em Salvador (bem mais perto da minha cidade).

Fui e voltei do Canadá, e foi tudo maravilhoso. Uma vez de volta ao Brasil, quis acreditar que eu ia conseguir me dedicar como eu gostaria para a prova. No entanto, como disse Joseph Climber naquele stand up comedy quase-engraçado: a vida é uma caixinha de surpresa. O mês anterior à prova foi muito difícil por uma série de motivos pessoais seríssimos, então todo e qualquer planejamento de estudos foi por água abaixo. Eu não tinha tempo, eu não tinha cabeça, eu não tinha nada.

Como a maioria das faculdades que eu tenho interesse vão abrir as inscrições no começo de Agosto, eu não quis encarar mais um reagendamento, ainda mais correndo o risco de precisar refazer a prova caso eu não atingisse a nota mínima. Cheguei à conclusão que eu tinha que fazer a prova de um jeito ou de outro, mesmo que isso significasse perder os 215 dólares de inscrição (também conhecidos como R$ 850,00 reais, na cotação de hoje).


Pós prova

Minha prova estava agendada para começar às 9h na escola de inglês ACBEU, em Salvador. Consegui um voo promocional para ir e voltar no mesmo dia, então às 6h30 da manhã eu já havia chegado na capital baiana. Esperei até mais ou menos 7h30 para pedir o Uber, e saí do aeroporto diretamente para a escola.

A escola é uma gracinha, e todos os funcionários são muito educados. Recomendo muito fazer a prova por lá, inclusive. De cara, já notei uma diferença gritante em relação à prova do IELTS General Training que eu fiz em Recife: somente foram disponibilizadas 8 vagas para realização da prova do TOEFL.

Eu pensei que iria encontrar o ambiente que encontrei no IELTS: cheio de gente, numa vibe de prova de concurso, com as pessoas revisando a matéria de última hora etc - nada disso. Estava super tranquilo, e eu e os outros sete aplicantes passamos o período anterior à prova conversando sobre nossas vidas. Foi bom ver que todos estavam lá com um propósito de vida parecido com o meu, o que acabou por me dar uma sensação boa de cumplicidade, de que iríamos passar por aquela experiência juntos, por motivos semelhantes.

Antes da prova, fomos conduzidos a um local para guardarmos nossos pertences, já que só pode entrar com lápis e/ou caneta e seu documento de identidade no laboratório de informática. Fiquei chocada que nem sequer podia entrar com água no local de aplicação da prova, mas admito que isso não foi um grande problema.

Após guardar os materiais, a escola entrega um documento para que você assine um termo de confidencialidade, no qual você se compromete a não informar as questões trazidas e nem divulgar qualquer informação que foi diretamente cobrada na prova. Logo, todo o meu texto tem que se escrito de forma a preservar o compromisso assumido.

Abaixo, descrevo todas as minhas impressões acerca das quatro seções da prova na ordem que elas se apresentam:


1) Reading: Meu deus do céu, que parte chata do !@#(!@_#)!@(. Sério, não tem como definir de outra forma. Foram três textos insuportáveis, e não pela dificuldade do idioma em si - e sim porque eram textos muito entediantes e mal escritos. "Ah, mas você tem que entender que no college/na universidade você vai pegar textos entediantes e mal escritos". Nossa, concordo plenamente, mas não vou precisar pagar 900 reais para lê-los num espaço de tempo digno de desafio do programa do Luciano Huck.

Quando eu digo que os textos eram chatos, eu não falo especificamente dos temas trazidos. Eu amo ler curiosidades na internet, de verdade! Não tem nada mais gratificante para mim do que ler sobre comunicação entre baleias orcas, sobre as diferenças entre onça e leopardo, lontra e ariranha, escalada ao Everest etc. Então o problema do TOEFL não é necessariamente os temas que ele traz, e sim como ele traz.

Se eu tivesse que resumir os textos sem quebrar o pacto de confidencialidade, eu diria que foi o equivalente a isso:

Texto 1:
Três tigres tristes para três pratos de trigo.
Três pratos de trigo para três tigres tristes. 

Texto 2:
Em um ninho de mafagafos haviam sete mafagafinhos;
Quem amafagafar mais mafagafinhos, bom amagafanhador será. 

Texto 3:
O tempo perguntou pro tempo
Quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu pro tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.


Imagens reais do dia da prova

Nossa, comecei a prova com um desgosto tão grande, porque simplesmente não sentia que aquilo iria medir, de fato, a capacidade de ninguém. Eu juro por todas as entidades que existem no mundo, e sem falsa modéstia, que eu não sei como eu consegui 28 dos 30 pontos. Eu respondia TODAS as questões com a sensação de que estava tudo mal feito, esquisito, errado, e não me lembro de ter certeza sobre absolutamente nenhuma delas. Além de tudo isso, a prova é muito, muito extensa: são 45 questões para responder.


Por questões pessoais, eu não tive tempo de examinar a prova do TOEFL como eu fiz com o IELTS. Eu fui pega de surpresa com a extensão da prova, então o tempo ia passando e a sensação que eu tinha é que aquilo não ia acabar nunca. O tempo é curto, e o teste é extenso, chato e desinteressante. Minha conclusão? São grandes as chances que o Reading do TOEFL te vença pelo mix de "pavor do tempo passando" + "que texto insuportável, meu deus do céu". Assim como o IELTS, o controle do tempo é essencial para conseguir finalizar a prova a tempo. No entanto, achei o TOEFL um pouco mais complicado nesse âmbito: é muita coisa para ler e pouco tempo para pensar. Cuidado com isso.

Minha nota no Reading: 28/30.


2) Listening: Minha preparação para a prova baseou-se muito nos vídeos preparatórios que achei no YouTube (ao final, colocarei os links que mais me ajudaram). Sobre o Listening, todos eles bateram na mesma tecla: para obter um bom resultado, seria essencial desenvolver uma boa técnica para anotações das informações trazidas. Fiz três simulações do Listening em casa, e sinto que não dediquei tempo suficiente para descobrir se a abordagem do "ouça e escreva" era, de fato, a melhor para mim. A priori, ainda em casa, eu tive a sensação de que conseguia melhores resultados se eu me dedicasse única e exclusivamente a ouvir os áudios e responder "de cabeça". No entanto, não dei tanta credibilidade à essa impressão, e segui martelando comigo mesma que eu ia precisar anotar todas as informações-chave no dia oficial.

Durante a prova, eu até tentei anotar as informações mais relevantes. Entretanto, notei que eu perdia tempo e atenção enquanto escrevia as coisas, aí abandonei essa estratégia durante a resolução do teste. Eu tive a sensação de que boa parte das questões podem ser respondidas com base no que você simplesmente escuta, mas (mais uma vez) repito: isso pode ser uma impressão do que funciona melhor para mim. Recomendo não repetir o meu erro e fazer um número maior de provas para entender melhor o que funciona para você no dia do exame.


Infelizmente não pode beber whisky na prova

Comparado ao IELTS General Training, achei a prova do Listening mais interessante e mais dinâmica (POR ACASO JÁ MENCIONEI COMO O READING FOI CHATO?!), então acredito que o velho treinamento com palestras do TED, podcats do Spotify (tem milhões), seriados, músicas, filmes ainda é uma boa maneira de se preparar (com as devidas adaptações ao seu nível de preparação).

Minha nota no Listening: 26/30.


3) Speaking: Me sinto Glória Pires no Oscar e quase não sei o que opinar. Acredito que, especificamente com o Speaking, vai depender MUITO de como você funciona e qual o tipo de situação que você se sente mais confortável. No General Training do IELTS, você conversará diretamente com um ser humano em 3D. Suas respostas serão gravadas e enviadas para que outro examinador avalie o seu desempenho.

No TOEFL iBT, tudo é gravado no computador. A priori, achei que essa proposta seria melhor, pois imaginei que isso me pouparia do nervosismo de conversar com alguém que está lá olhando para minha cara. Contudo, essa coisa do TOEFL iBT de ter que falar depois de um apito, com o cronômetro decrescente rolando solto, acabou me deixando nervosa. Eu não sabia direito para onde olhar, eu não sei dizer direito o que eu senti falando num microfone e fones de ouvido de piloto de avião, e por aí vai. É algo extremamente pessoal, então acho que vale a pena refletir o seu nível de desenvoltura nesse tipo de situação.



Minha nota no Speaking: 26/30.


4) Writing: Para mim, foi a melhor parte de todas. Eis a GRANDE vantagem do TOEFL iBT: você pode digitar a sua redação. Minha experiência no IELTS foi um pouco desesperadora, pois usei literalmente todos os minutos para terminar de escrever (e ter aquela certeza de que você cumpriu o número mínimo de palavras). Como eu tenho bastante prática com digitação, consegui terminar o Writing confortavelmente.


Mandando logo uns 10 phrasal verbs para começar

São duas tasks: na primeira, você lê um texto, ouve um áudio, e tem que fazer um resumo juntando as duas ideias (com foco em trazer o que foi dito no áudio). Na segunda, é dado um tema, e você tem que escrever sua opinião pessoal sobre o assunto. Na minha prova, achei que os dois temas foram bastante equilibrados, e não tenho nenhuma queixa a fazer sobre essa parte específica da prova.

Minha nota no Writing: 28/30.


Minhas notas no formato disponibilizado pelo site do TOEFL


Opinião final sobre o TOEFL iBT:

Se eu tivesse que falar em um parágrafo minha opinião sobre a prova do TOEFL iBT como um todo, eu diria que é uma prova chata. Não necessariamente chata por ser difícil, mas chata pelos motivos errados.

Eu tenho a teoria (louca e bastante pessoal) de que chega um momento que essas bancas organizadoras de prova de proficiência de inglês simplesmente não têm mais o que cobrar - aí elas partem para as aleatoriedades, para as maluquices.

Essa prova é aplicada não sei quantas vezes ao ano, aí eu fico com esse feeling que essa sede de "inovar os textos", "atualizar as técnicas de cobrança", acaba tomar espaço do verdadeiro propósito da prova - que é medir o mais objetivamente possível o seu nível de inglês.

Imagino a dificuldade que deve ser criar um fator objetivo para mensurar a capacidade de comunicação de uma pessoa em outra língua. Que fique claro que sou totalmente a favor da atualização do ensino, das questões, de tudo. No entanto, depois de anos e anos vivenciando a realidade de concurseira, achei que as questões com pegadinhas maliciosas e enunciados confusos eram prato exclusivo da casa.

Gostaria de ter a oportunidade de pegar a prova e ver como minhas respostas foram avaliadas individualmente, mas é claro que eles não divulgam isso. Fica aqui a minha experiência com essa prova enjoada, na esperança de que tão cedo eu tenha que passar por algo parecido! Me coloco à disposição de quem queira mais algum detalhe específico sobre o teste :) Abraço.

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